Somos todos hackers

Hacker não é aquele cara que fica invadindo os sistemas dos bancos e roubando dinheiro. Na gíria do mundo dos computadores o verbo “to hack” significa criar uma solução genial para um problema interessante. Fora do universo dos computadores, essa expressão é usada em dois sentidos:
– um mais propositivo, pelos pensadores da liberdade de conhecimento, da sociedade da informação e do movimento software livre.

– e outro mais equivocado, pela grande mídia que faz questão de misturar os hackers com os crackers (estes sim, invadem e quebram proteções de sistemas e programas).

Deixo aqui o link e alguns trechos da entrevista com McKenzie Wark, autor do livro Manifesto Hacker, para quem, como eu, prefere a via mais propositiva da vida:
http://www.assimcomunicacao.com.br/ecompos/frm_ecompos_publicacoes.asp?id_publicacao=48

“O mais significativo sobre a tentativa de transformar informação em propriedade privada é que essa tentativa pode falhar.”

“Eu penso que há toda uma nova luta de classes entre os ?hackers?, que criam a nova informação, e o que eu chamo de classe vetorialista, que monopoliza os meios de atribuir o valor às mercadorias. A produção dos bens está concentrada aos países “em desenvolvimento”, enquanto os escritórios centrais localizados no “mundo desenvolvido” mantêm controle sobre as patentes, marcas e grifes.”

“Nós precisamos criar novos tipos de relação de propriedade para que a atividade criativa possa se expandir em novas direções. Há uma enorme variedade de conflitos, onde você pode ver essas novas possibilidades acontecendo o tempo todo. O Movimento de Software Livre, e em certa medida o Código Aberto. A licença de Creative Commons aparece como uma alternativa ao direito autoral. A luta em relação aos medicamentos genéricos, particularmente nos países em desenvolvimento. Sem mencionar o movimento popular no qual as pessoas copiam e dividem músicas, filmes, textos como um tipo enorme de economia de troca. Essas são todas tentativas de “hackear” o sistema da propriedade e expandi-lo para uma era de criatividade digital.”

Implicações Sociais das Revoluções Digitais por Gilberto Gil

Chego de mais um Fórum Social Mundial, e pego emprestado as palavras do Gil para compartilhar com vcs:
“Tenho percorrido nos últimos dias os diversos territórios que se entrelaçam no Fórum Social Mundial. Participei de encontros e diálogos tão diversos quanto o público que ocupa as tendas, os armazéns, as praças e os cinemas de Porto Alegre. Estive (e ainda estou) atento a quase tudo e a quase todos. Com os olhos e os ouvidos abertos, empreendo aqui uma espécie de peregrinação.

Trata-se de uma experiência intensa, repleta de trocas afetivas, culturais, políticas, enfim, trocas de todos os tipos, que se dão a cada encontro, a cada diálogo. Aprende-se e ensina-se muito no Fórum Social Mundial. Diverte-se, sobretudo. Há estímulos e referências para reflexões e vivências de várias ordens, muitas vezes contraditórias, muitas vezes paradoxais, mas sempre instigantes.

Um desses paradoxos é a convivência cotidiana entre o mais arcaico discurso político, a mais bizantina forma e o mais bizantino conteúdo, a mais antiga e superada agenda, a mais antiga e superada atitude, e as formas contemporâneas, os conteúdos, as agendas e as atitudes mais sintonizadas com o nosso tempo. A convivência entre o analógico e o digital, entre a foice e o martelo e os fluxos virtuais.

Há espaço e provavelmente sentido em tudo isso, talvez porque o impulso básico da mudança, da transformação e do progresso esteja, ou tenha estado, um dia, na gênese de todos os movimentos de contestação da ordem e de construção de novas ordens. O impulso fundamental de superação, de aventura e de peregrinação que se fez e se faz presente em cada passo adiante da humanidade.

As pessoas e as organizações que constituem o Fórum Social Mundial têm, portanto, uma base comum, ainda que as falas, as visões, os métodos e as práticas sejam diferentes. Eis o que explica a convivência pacífica e estimulante entre agendas tão díspares, por exemplo, como a agenda deste encontro, sobre a revolução digital e as novas redes, e as agendas dos partidos marxistas tradicionais.

Em meio a tantas vertentes, há que se fazer, ao longo da peregrinação, algumas escolhas. Embora tenha cruzado vários territórios e experimentado várias agendas, embora identifique em todas o generoso impulso comum que mencionei, confesso a vocês que a minha agenda, o meu território, o meu movimento, enfim, aquilo que me parece mais contemporâneo e desafiador, está aqui.

Eis a minha escolha pessoal e intransferível. Entre o “anti” e o “pro”, entre a reclamação e a ação, entre a negação e a compreensão, fico com o “pro”, fico com a ação, fico com a tentativa positiva de entender as coisas em sua complexidade, para construir estratégias de transformação mais adequadas ao aqui e ao agora. Sou ministro, sou músico, mas sou, sobretudo, um hacker, em espírito e vontade.

Todos aqui sabem que sou um defensor, e mais do que um defensor, um praticante, um usuário, um entusiasta, do software livre, dos instrumentos de realização de redes virtuais e remotas, dos programas de inclusão digital, da aceleração e da multiplicação de trocas e das formas mais intensas, mais radicais, mais inovadoras de exercício da liberdade de pensamento, de expressão e de criação.

Seja o que for que as corporações pensam e sentem quando ganham dinheiro ou economizam dinheiro com o GNU-Linux, com as redes de computadores, com os cabos, as fibras e os transmissores, e com a aceleração das trocas de informações e o trabalho remoto, uma coisa é certa: a batalha do software livre, da Internet livre e das conexões livres vai muito além delas, de seus interesses.

É a mais importante, e também a mais interessante, e a mais atual das batalhas políticas. Claro que há uma revolução francesa, ou várias revoluções francesas, a fazer no planeta, seja dentro dos países, seja no comércio internacional. Ainda nos defrontamos não apenas com discursos do Século 19, mas também com realidades do Século 19. Mas não podemos secundarizar o presente. E o futuro.

Trata-se, eu dizia, da batalha mais importante travada hoje nos campos da tecnologia, da economia e da vida social. Não por acaso, ela está em profunda articulação com outra batalha vital, a da diversidade cultural, que tem nas novas mídias e redes planetárias um habitat de proteção, afirmação e desenvolvimento com vasto poder de multiplicação em termos de intensidade e quantidade.

Este cenário pode significar uma mudança nas formas de produção e difusão da subjetividade humana capaz de transformar inclusive os conceitos de civilização e desenvolvimento que usamos atualmente. Pode haver impacto mais profundo, e mais libertário, do que este? Estou falando da construção de territórios amplos e perenes, e não apenas temporários, como este Fórum, de igualdade e pluralidade.

O mais fascinante é que este movimento, esta marcha das multidões contemporâneas globais, um movimento que assume formas variadas, com bandeiras variadas, surgiu da própria sociedade, de indivíduos que se associam em progressão geométrica, através de redes próprias, e não das empresas, dos partidos, dos sindicatos, enfim, dos meios tradicionais de representação e de articulação.

Isso implica uma mudança estrutural, não somente no conteúdo, mas na forma e no processo, que se reflete no que se diz, no que se propõe, e também em como se diz, como se conecta. O trabalho está mudando radicalmente, e também o modo como se pensa, como se cria, como se ama, como se troca e como se governa. E tudo isso tem ocorrido de maneira descentralizada e abrangente.

Trata-se da resultante do trabalho individual e coletivo de gente com interesses, visões e bagagens culturais diferentes, que decidiu trabalhar, algumas vezes de graça, recriando o sentido da palavra trabalho, para que mais e mais pessoas, no mundo inteiro, tornem-se pilotos de seus próprios destinos e realizem seu potencial humano, seja no convívio, seja na produção, seja na criação.

Já temos, aqui no Brasil, uma vasta experiência acumulada no campo do software livre, da inclusão digital e da constituição de territórios autônomos e articulados de reflexão, produção e difusão. Há milhares de projetos, protótipos, redes e até mesmo uma produção acadêmica significativa. Agora, esta ampla mobilização de inteligências e sensibilidades desemboca no próprio governo.

Eis outro aspecto fascinante do que estamos vivenciando. O governo federal brasileiro, e também alguns governos locais, como os governos de duas cidades do estado do Rio de Janeiro, os governos de Nova Iguaçu e de Piraí, enfim, esses governos abraçaram a causa, transformando a cultura digital, as práticas digitais, as conexões digitais livres, em uma de suas políticas estratégicas. No MinC estamos desenvolvendo um laboratório de conhecimentos livres, coordenado por Cláudio Prado e articuladores.

As próprias iniciativas da sociedade, do terceiro setor, encontram-se hoje em novo patamar, mais amadurecidas, mais consistentes. É com alegria, portanto, que devemos saudar as experiências de inclusão digital, de adoção do software livre e de mudança do conceito (e da gestão) da propriedade intelectual, assim como os debates sobre o impacto da revolução digital em todos os campos.

Penso, por exemplo, na questão dos direitos conexos, com as novas formas de licenciamento e gestão de conteúdos, a exemplo do movimento Creative Commons, que abre perspectivas inteiramente novas para criadores e fruidores de arte e entretenimento, formas oxigenadas, não-corporativas, progressistas mesmo, em temas historicamente aprisionados pela ortodoxia analógica reacionária.

O Brasil pode e deve aproveitar este contexto favorável, em que mais e mais pessoas despertam para os desafios que as novas mídias e as velhas injustiças nos colocam, em que o próprio governo incorpora o software livre e o que ele representa como prioridade, para empreender passos concretos no sentido da ampliação dos territórios de inclusão digital, de igualdade digital, de justiça digital.

Não se trata, como eu disse, de um movimento ?anti?, mas de um movimento ?pro?, ou seja, a favor da valorização e da disseminação de uma nova cidadania global, da capacidade de autodeterminação das pessoas, de novas formas de interação e articulação, da liberdade real de produção e difusão da subjetividade, da busca do saber, da informação, do exercício da sensibilidade e da coletividade.

E como estou valorizando o lado ?pro? do Fórum, quero propor a vocês a constituição imediata, a partir deste encontro, de uma convocação global pela liberdade digital da humanidade, complementar à convocação global pela erradicação da pobreza lançada por diversas ONGs neste Fórum e abraçada pelo presidente Lula. Sejamos corajosos e substantivos em relação a isso.

Penso em um amplo movimento nacional e internacional para a disseminação do software livre, pelo barateamento do hardware, pela construção de redes e territórios autônomos de conexão entre pessoas e grupos, pela implantação de espaços públicos de acesso wi-fi à Internet, pela globalização do conhecimento e da arte, pela defesa da diversidade cultural e pela liberdade das trocas múltiplas.

Um movimento, enfim, pela disseminação da ética hacker, que não se confunde com as ações dos crackers. Vocês sabem que há no planeta uma comunidade, uma cultura compartilhada, de programadores, pesquisadores, criadores e pensadores, cuja história remonta aos primeiros experimentos de minicomputadores, e que permitiu a criação da Internet e de várias experiências de mudança.

Esta comunidade, esta cultura, não se restringe mais ao software. A postura hacker, uma postura humanista, que busca a construção da nova cidadania da sociedade da informação, esta postura está presente hoje na música, na mídia, nas ciências humanas, nos projetos sociais e nos governos, constituindo uma forma atual e transformadora de ver o mundo, de encarar os desafios do presente.

Hackers criam, inovam, pesquisam, alargam e aprofundam o saber. Resolvem problemas e têm uma crença radical no compartilhamento de informações e experiências. Exercitam a liberdade e a ajuda mútua e voluntária. Nossa convocação global deve levar este espírito a todas as dimensões possíveis da vida humana, em especial às ações de inclusão digital e geração de renda, emprego e cidadania.

Eu, Gilberto Gil, cidadão brasileiro e cidadão do mundo, ministro da cultura do governo brasileiro, músico, trabalho no ministério e na música, em todos os fazeres e pensares que formam a minha existência, sob a inspiração da ética hacker, preocupado com as questões que o nosso mundo e o nosso tempo nos colocam, e seus paradoxos, suas contradições, suas virtudes e suas possibilidades.

Em uma de minhas primeiras intervenções públicas como ministro, disse que o Ministério da Cultura passaria a ser o espaço da experimentação, o território da criatividade e da invenção, o palco das linguagens inovadoras e das ações transformadoras, um signo vivo de aventura e ousadia. Assim tem sido. Assim será. Como este debate. Como este Fórum. Como a minha peregrinação aqui em Porto Alegre.

Muito obrigado”. Gilberto Gil, PORTO ALEGRE, 29 DE JANEIRO DE 2005

Você usa o Orkut? Leia isso.

Se vc usa o Orkut no internet Explorer, saiba que está correndo risco de ter seu perfil (e as comunidades que possui) roubados. Sim, é verdade. O pessoal do site COCADABOA descobriu isso e fez uma tremenda confusão no Orkut para alertar as pessoas disso.
Lei mais nos sites:
Terra Informática
Webinsider
Cocadaboa 1
Cocadaboa 2

Se não quiser ler, mas quiser navegar sem procupações livremente por aí, mude para o Firefox.

Podcasting, você já ouviu falar?

Navegando por aí, descobri alguns áudios de entrevistas disponíveis para download… fui pesquisando e descobri uma tecnologia chamada Podcasting – um “jeito” de fazer, disponibilizar e ouvir áudio, como se fosse programas de rádio. Sabe o fenômeno “blog” que vc lê direto de quem escreve? Então, chegou a hora de podermos ouvir direto de quem fala (e na hora que a gente quiser). Fica afim de montar uns programas de rádio? Fica afim de saber mais? Aí vão uns links:
www.dicas-l.unicamp.br/dicas-l/20041108.php
http://pointweb.com.br/TIetc/2004/11/podcasters-tupiniquins.htm
www.noticiaslinux.com.br/nl1102377071.html

Thunderbird 1.0 em português

Saiu a versão final do programa de email Thunderbird em português. O Thunderbird é feito pelo mesmo pessoal que faz o navegador Firefox. Vários sites especializados dizem que a maior parte dos vírus e invasões à computadores acontecem via Internet Explorer e Outlook Express, e aconselham que as pessoas usem um navegador e um programa de email alternativos. Já uso o Firefox e acho muito bom. Estou baixando o Thunderbird agora para experimentar…
Para quem mais quiser: http://br.mozdev.org/thunderbird/ (em português)
ou www.mozilla.org (em inglês)

Viva o software livre!